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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

“Você tem voz de jornalista”


Lidar com o diferente sempre é uma tarefa complicada. Antes da apuração da matéria, meu único pensamento era “Como me comportar?”. Mas todo o pré-conceito se desfez quando meu entrevistado prontamente mostrou-me que o lugar parecia muito mais minha casa do que eu imaginara.

Lauro Meller me guiou por todo o Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos do RN (IERC). Eu, ele e Gleide conversamos durante quase 40 minutos. E assim fui me sentindo mais de casa. Andando pelo lugar percebi que diferente era eu. Eles não. Eles andavam, corriam, jogavam bola, cantavam e me encantavam.

Ao entrar na biblioteca do Instituto aconteceu um dos episódios mais doces da visita. Para registrar as crianças em pleno poder da infância, eu atravessei todo lugar a fim de conseguir a melhor luz para a foto. Daniela, 12, me agarrou. “Quem é?”. Com certo pavor daqueles que não sabem o que fazer, respondi rapidamente. “Oi, sou Kassandra. Posso fazer uma foto de vocês?”. Ela sorriu e me conquistou. “Você tem voz de jornalista”, disse a menina cega. Por ai, vocês imaginam o meu sorriso, que dobrou-se quando ela me relatou que queria seguir os caminhos da Patrícia Poeta.

E a manhã passou velozmente. Sai de lá completamente invadida por aquela alegria. Eles, realmente, não eram capazes de enxergar o meu mundo. Não eram capazes de enxergar minhas expressões de espanto, meu segurar no vestido ou o meu sorriso de foca. Mas eles tinham uma capacidade incrível de sentir. Em sentir de uma forma, que nem o meu poder de ver as cores conseguia.

( Relato fruto de uma matéria produzida para a disciplina Linguagem Jornalística)


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