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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Prematuro


Às vezes a vontade de nascer o novo,vem do nada
Como um prematuro que berra antes do fim da gestação
Com base na minha psicanálise de receita, acho que é saudade.
Saudade de saborear cada estúpida palavra brotante ou broxante
Não sei, do dom eu fujo, acredito ser desejo.
O sórdido orgulho de dizer foi eu quem fez!
E nesses traços nada concretos eu vos falo da arte pela arte.
Da metalinguagem de mim mesma.
Como se cada verso fossem filhos meus, pelos quais tenho cuidado.

Não sei bem se me definiria Poeta.
Boêmio, bêbado, louco, explodido de amor, cigarros e mais cigarros.
Sabe: eu não.
No meu mais contido trajar:
Sou na minha, morena ,de poucas paixões e da bebida só a água.
Mas há uma vontade que me engole,
Como se existisse dentro de mim um monstro compulsivo pelas letras.
Que de vê-las sorrirem, se torna feliz também.

A como é maravilhoso esse nosso mundo.
Nós, vagabundos de livros.
Nós que sabemos que mesmo na exatidão dos cálculos,
O amor é medido por palavras.
Nós deste mundo, onde nenhuma bomba é capaz de destruir a vontade de um ser.

E o engraçado é que poderíamos termina assim: com um grande fina le.
Mas não, insistimos em não querer parar.
E isso acaba até o próximo ataque de abstinência.
Quando o corpo quer mais e mais.
É estranho ser assim, mas não há nada fazer.
O que resta é aceitar essa vida assimétrica.
E esperar até os próximos descompassados poemas.



Foto: ilustração intitulada mãos e metalinguagem.

domingo, 3 de janeiro de 2010

As rugas que me emocionam


As rugas que emocionam
O afago semanal
Entre grisalhos cabelos e longas orelhas
O aconchego dos carinhos
Os meus velhinhos
Com as marcas mais verozes do tempo
Linhas da verdade, da história.
Do que fomos nós, do que seremos.
Eles são o futuro que eu guardo
As lembranças da Água Marinha
Das ladeiras com cabelos ao vento
E livros a se espalhar pelas calçadas
As tardes nos 47 a beijar Potilândia
Assim um pouco do meu Eu.
Do que sou.
Isso me deixa muito mais completa
Repleta de brilho
Os sorrisos que eu guardo
As cócegas que me envolvem.
Borboletas que me segredam as rimas
Contam-me que aqui é melhor.
Kassandra Lopes
Foto:gettyimagens.